Autor: Miqueas Libório de Jesus[i]*
Segundo a Bíblia Sagrada, disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; (…). Assim criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o Criou; (…). Então disse o Senhor Deus: O homem se tornou um de nós, conhecendo o bem e o mal; assim, para que não estenda a mão, e tome também da arvore da vida, e coma e viva eternamente, o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, (…), pôs querubins ao oriente (…), e uma espada flamejante que se envolvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida. (Gênesis 1; 26 e 27 – 3; 22, 23 e 24).
Depreende-se que o Homem, embora, metaforicamente falando, seja o espelho de seu Criador, dele não herdou a perfeição, razão pela qual teria sido condenado a vagar pelas eras, numa instintiva jornada pela busca da finalidade de sua existência, empreendendo uma verdadeira cruzada na vã tentativa de aproximar-se Daquele que um dia o criou. E, assim, caminhamos pela senda da vida carregando, intimamente, inquietantes questionamentos sobre quem somos, de onde viemos, para onde vamos e qual a finalidade da nossa existência.
Poucos são aqueles que alcançam as respostas. Somente os corajosos são capazes de se curvarem diante de si para, minuciosamente, sondar um mundo onde ninguém mais poderia penetrar. É nos recôncavos da consciência que se ouvem os ecos do silêncio, e nada de diferente poderá ser encontrado, além daquilo que não exista em si mesmo, ou seja, daquilo que jaz encerrado na própria alma. Cada um é responsável por tornar visível seu próprio universo e a divindade que lá habita, desde a concepção humana.
O tolo ignora que a consciência é seu guia, de onde deve expurgar tudo o que ofusca e faz brotar as arestas das imperfeições e florescer vícios, preconceitos e o impulso indomável às práticas não virtuosas. O sábio compreende que o segredo jaz em sua alma e que é preciso transformar o bruto no belo, fazendo de si mesmo um templo perfeito às virtudes, cujo êxito permite a comunhão com o Divino, mas não o Divino Criador, mas aquele que se acha aprisionado dentro de si, pois, como está registrado nas sagras escrituras, “disse o Senhor Deus: O homem se tornou um de nós, conhecendo o bem e o mal”.
É preciso erigir o templo interior e, a partir dele, exercitar as boas ações ao longo da jornada terrena. Tenha como guia o amor, a fim de que floresçam as mais belas flores às margens das estradas que trilhar. Jamais se esqueça de exercitar as virtudes, pois os vícios são como ervas daninhas: crescem ao menor descuido do fiel jardineiro. Eles exporão vossas fraquezas e, às vezes, não terás escolha. É preciso estar sempre com o coração aberto, rever velhos conceitos e ser humilde e solidário para com seu próximo. Quando se sentir perdido, retorne ao ponto onde tiveste que morrer para renascer e, a partir dele, reconstrua seu templo interior, pois se por acidente, no declínio da sua existência, fores parar no inferno, o próprio demônio lhe conduzirá ao Paraíso, para adentrar ao panteão e lá se juntar ao teu Criador.
[i] Origináriamente publicado no livro intitulado “Vamos tomar um café? Alea Jacta est”. Bibliografia: JESUS. Miqueas Libório de. Vamos tomar um café – Alea jact est. 1ª ed., Joinville: MFA Editora, 2018, pp. 84/85.
- NOTA DE ESCLARECIMENTO: O presente texto é de cunho particular e meramente filosófico. Não possui o objetivo de agredir e, muito menos, afetar ou modificar a fé ou a crença de qualquer pessoa. Além do mais, a leitura dos textos sagrados exige a compreensão da estrutura e da organização teológica que sustenta o adequado entendimento. Acréscimos e modificações podem impor novas dimensões que acabam transformando ou desviando a realidade original. Por isso, mais uma vez, admoesto destacando que o presente escrito é particular e de natureza filosófica, razão pela qual antecipo escusas por eventuais discordâncias daqueles que melhor compreendem o sacro texto, assim como daquele que porventura pensam diferente.