A religião, dentre as diversas instituições mundo afora, provavelmente, é mais antiga e perene de todas. Suas raízes, de tão profundas, são capazes de moldar civilizações inteiras, determinando a cultura dos povos e o modo de viver destes. É inegável a influência que exerce sobre as pessoas, ao ponto de inspirar o que há de melhor e o que há de pior no Ser Humano, este, guiado pelo ego e pela vaidade dos líderes ou autoridades religiosas.
Todavia, é inegável que os diversos escritos religiosos formam a base dos códigos morais espalhados mundo afora, bem como servem de instrumento de orientação ou de consolo em tempos de aflição. Dado ao seu antagonismo, a religião também se associa a opressão dos que não seguem suas doutrinas ou à perseguição daqueles que professam outras crenças ou credos, assim como, simplesmente, daqueles que em nada creem. Não raro, surgem rivalidade entre as diversas vertentes religiosas.
A visão limitada sobre a religiosidade ofusca a mente e provoca o aprisionamento em dogmas capazes de afastar as pessoas, segregando-as em compartimentos específicos e desconectados do mundo exterior. De modo geral, o Ser Humano não compreende que a premissa da religiosidade é a busca da espiritualidade, a qual conecta a Criatura a fonte primária de tudo que existe, que para alguns é Deus, mas que, para os maçons, é o Grande Arquiteto do Universo, em respeito a todas as religiões espalhadas sobre a superfície da terra.
A Maçonaria, em seus princípios cardinais, proclama ser formada por homens de todas as raças, credos e nacionalidades, acolhidos a partir de processo iniciático executado no âmago das Lojas, cujos métodos de estudos, auxiliados por símbolos e alegorias, preparam o Iniciado para trabalhar e construir a Sociedade Humana.
Desde sua origem, a Ordem exalta a existência de um Princípio Criador, uno e universal, denominado de o Grande Arquiteto do Universo, revelando que seu objetivo é o aprimoramento moral e espiritual do ser humano, preocupando-se, necessariamente, com a vida dos seus membros e com seus comportamentos perante os semelhantes. Por isso, proclama a prevalência do espírito sobre a matéria.
Logo, o conceito de espiritualidade não se arraiga na religião, mas na crença que liga o ser humano a fonte primária da Criação, como o alfa e o ômega em si mesmo, donde emana a força regente de tudo que vive e existe. Embora possa ser esta a compreensão, secularmente, observamos a forma distorcida que muitos leigos e religiosos tem sobre a Maçonaria. Inclusive, há quem pense que a Ordem seja uma religião.
A bem da verdade, a Maçonaria tem como missão a evolução da humanidade, a proteção da pátria e dos ideais humanitários, a libertação da sociedade nos tempos de tirania, bem como preocupa-se em levar luz para o desenvolvimento político, científico, espiritual, moral e ético do ser humano. Assim, para torna-se Maçom é primordial a crença em Deus ou deuses positivos ou na imortalidade do espírito. Isto impede que um ateu ou declarado satanista acesse aos augustos mistérios da fraternidade.
Entre os Maçons, há irmãos que professam diversas práticas religiosas. Por isso, a espiritualidade baseia-se na fé individual e não no sectarismo religioso é incompatível com a universalidade do espírito maçônico. A tolerância constitui-se no princípio cardeal das nossas relações, a fim de que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um. Isto por si, reafirma a espiritualidade do maçom, exteriorizada na sua reputação ilibada e no seu comportamento exemplar perante a sociedade.
Sob esta perspectiva, não se aceita dentro de Loja o debate cunhado no sectarismo religioso. Logo, inexiste um foco religioso específico. O que há é o trabalho intermitente para nos tornarmos pessoas espiritualizadas e com sentimento de respeito a toda espécie de credo. Por isso, o verdadeiro maçom é reconhecido por seu caráter integro, seu espírito humanitário, sua esplendida espiritualidade e seu comportamento exemplar, seja como cidadão ou seja como profissional, pois seu intelecto foi impregnado pelo amor à humanidade.
O humanitarismo apregoado pela maçonaria requer o aperfeiçoamento moral, intelectual e, acima de tudo, espiritual do homem, mediante o combate dos vícios, do egoísmo latente e de tudo aquilo que o aliena ou o escraviza. Ao trabalhar continuamente, o maçom aflora sua espiritualidade, pois a firme crença no Grande Arquiteto do Universo impõe, antes de qualquer outra, sua depuração moral.
A espiritualidade deve ser entendida como a conexão ou como fio que liga o homem diretamente ao Princípio Criador, fonte inicial do que existe e que se acha encerrado em tudo que nos cerca. Por outro lado, a religião exprime a ideia de caminho, o qual, a exemplo de uma frondosa e exuberante árvore, mostra-se com seus diversos galhos espalhados em diversas direções, porém sempre apontando para um ponto único, qual seja, o solo, donde tudo germina, cresce e floresce.
Noutro dizer, a espiritualidade promove a conexão direta a fonte primária da criação, sem intermediários, pontes ou elos, ao passo que a religião, seja ela de que natureza for, apresenta-se como caminho, elo ou intermediário entre o homem e seu Criador. Logo, a religiosidade, como designação do que é religioso e manifesta a tendência para sentimentos dessa natureza ou das coisas sagradas, manifesta-se por intermédio das várias religiões mundo afora, onde cada ser humano se perfilha segundo a propensão do seu espírito, segundo sua fé.
Todas as religiões, mundo afora, pugnam pela elevação do espírito a partir do abandono das práticas não virtuosas e abomináveis perante o sagrado, assim como reafirmam que a fé é o fio condutor e a depuração do ser é o que permite a ascensão ao etéreo ou promove a aproximação com o divino. Noutro vértice, preconizam que a não depuração pode conduzir a lugares inimagináveis, onde nada há senão o suplício eterno. Para o maçom, tal lugar reside no íntimo da sua consciência, lugar onde ninguém mais pode adentrar.
Neste ponto, é importante que se diga que a espiritualidade se pauta pela fé e a maçonaria pela razão, inexistindo incompatibilidade entre ambas. Tanto é, que a Ordem Maçônica não pode ser vista como religião ou com ela ser confundida, eis que o campo de atuação de uma e da outra são distintos. A prática religiosa requer a fé como elo de conexão com o divino, ao passo que a maçonaria, ao preconizar a prevalência do espírito sobre a matéria, trabalha a razão do maçom a fim de incutir na sua consciência a busca pelo autoconhecimento.
Dentro de um campo de intersecção entre fé e a razão, é preciso esclarecer que a religiosidade, não obstante a fé, exige a depuração moral como pressuposto à elevação espiritual. Não raro, as religiões, porém, nem todas, servem-se do medo como instrumento para tal fim, impregnando no íntimo do praticante o profundo temor acerca de um severo julgamento do Altíssimo, cuja sentença pode resultar numa condenação a um martírio eterno.
A Maçonaria, por outro lado, serve-se da psicologia para trabalhar a razão e incutir na consciência aquilo que precisa ser trabalhado, assim como fornece, por intermédio das alegorias, as ferramentas necessárias para os desbastes e depurações, obtendo como produto final um ser humano que conscientemente se conhece e que se ajustou moralmente.
Dentro dessas premissas, os rituais maçônicos apregoam que aquele que quiser encontrar a bem-aventurança no caminho da vida deve, antes de tudo, buscar seu próprio enobrecimento moral. Assim, o exercício da espiritualidade transcende a religiosidade, pois prevalece os valores do espírito e da consciência (razão). Isto leva a compreensão de que o homem nada é, além daquilo que veio mundo pelas mãos puras da natureza, evidenciando que seu valor repousa na pureza do seu ser, expressão maior da Criação e que o liga a cadeia universal de tudo que há no universo e que jaz seguro por uma grande corrente invisível e eterna.
Logo, na Maçonaria, o exercício da fé no grande Criador se dá por intermédio da razão. Assim, as alegorias maçônicas e seus simbolismos relembram os deveres do maçom para consigo mesmo, para com seus irmãos e, acima de tudo, para com Deus. Dentro dessa dinâmica, é preciso meditar sobre o significado da vida e sobre a nossa missão pela seda da existência.
Reafirma-se: a Maçonaria não é religião e nem com ela se confunde. Contudo, dado seus objetivos, presta relevante contribuição à espiritualidade, pois, esta, como elo de ligação que conecta o ser humano ao Grande Criador do Mundo, exige a depuração moral do indivíduo a fim de que o espírito se eleve. Ao trabalhar a razão do iniciado, despertando-o para suas fraquezas ou debilidade morais, a Maçonaria serve de instrumento à depuração do ser, naquilo que se consagrou como o burilar da pedra bruta na eterna busca pelo autoconhecimento.
Conhecer-se, é uma jornada que redunda em revelar a partícula divina que jaz em cada um, cuja luz fora ofuscada pelas cargas das eras. Por isso, seu esplendor somente pode ser visto por quem arduamente exerce seu auto burilar.
O verdadeiro maçom, entendido como aquele que ao longo da jornada sorveu tudo o que lhe foi transmitido e colocou em prática o que fora aprendido, inexoravelmente retirou suas vendas e desobstruiu seus canais sensoriais. Como consequência, fortaleceu seu intelecto e seu espírito e adquiriu as condições necessárias para se elevar, cujos reflexos se manifestarão no seu comportamento e no modo de pensar e de agir.
Por isso que se diz que o trabalho do maçom é devotado ao Grande Arquiteto do Universo, pois sempre estará pautado no legítimo humanitarismo e no verdadeiro amor fraterno, cujo fim é implantar no mundo o domínio dos puros princípios morais.
4 Comments
Simplesmente esclarecedor e fantástico.
Prezado Jonatan,
Agradeço a visita e o comentário.
Um forte abraço.
Um grande prazer, conhecimento interno e luz para humanidade…
Prezado Thiago,
Agradecido pela visita e pelo comentário.
Abraços