Adoro os dias de outono. Clima agradável, sol de meia estação, céu com nuvens esparsas, além do vento a cantarolar nos ouvidos. Foi num dia assim, um sábado a tarde, no auge dos meus 17 anos, que acompanhei minha mãe a um velório. Nunca gostei desses momentos fúnebres, especialmente olhar o corpo estendido, com as mãos cruzadas e encoberto por flores.
Ao chegar no local preferi não entrar. Fiquei contemplando o campo e contando os minutos para partir. Foram longas quatro horas. Eis que o sol se pôs no horizonte e a noite anunciou sua chegada. Pacientemente segui olhando o relógio. Derrepente, na penumbra, avistei uma mulher vindo em minha direção. Aparentava uns 31 anos, loira, 1,75m, cabelos soltos e vestindo branco. Seu semblante ostentava certo abatimento…
Ao chegar até onde eu estava cumprimentou-me. Eu nunca tinha visto a distinta dama. Entre olhares e trocas de algumas palavras, a Distinta disse que a vida era curta e que era preciso aproveitar cada momento e que isso ela não tinha feito. Consenti com a cabeça e do nada ela me deu um longo e caloroso abraço. Senti seu perfume. A essência lembrava jasmim ou flores do campo. Em seguida virou-se e foi embora e desapareceu na penumbra da noite.
Continuei onde estava e sentido o arroma das flores que ficara impregnado. Minutos depois, minha mãe me arrastou para me despedir da falecida. A contragosto, caminhei até às beira do caixão. Quando olhei o corpo encoberto por jasmim, um calafrio correu da cabeça aos pés. Minhas pernas amoleceram. Eis que me deparei com aquela enigmática Dama, que minutos antes havia estado comigo. Lá estava ela, esticada e encoberta por jasmim…
Por diversas noites acordei me debatendo e na lembrança aquela estranha tarde de outono. Isto se sucedeu por longos três anos.
Uma belo dia, eis que do nada minha mãe toca no assunto e me disse que a falecida tinha uma irmã gêmea… #AhMiserável…